quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Crítica

Crítica sobre o espetáculo TARJA PRETA - Cia do Chapéu (Maceió/AL)

Por Bruno Alves*


Foto: Nyrium


Estamos em uma sala escura.
O tic tac do relógio anuncia que vai começar uma jornada em uma madrugada dentro de um corpo insone, corpo do nosso tempo, nosso corpo ali talvez, presentificado em Joelle Malta. Corpo que se repete e se desloca no "silêncio" e no escuro.
Relógio parado. Tempo parado. Tempo que parece nunca passar. Minutos que duram uma eternidade no corpo de quem sente.
A Cia do Chapéu, que celebra em 2017 seus quinze anos de atuação, retorna com o espetáculo "Tarja Preta" estreado em 2014. Nele, somos convidados a testemunhar, a se fazer presente dentro da temática da depressão em nossa sociedade.
Nenhuma palavra se fez necessário verbalizar para que a ação dramatúrgica se fizesse forte e impactante. É a imagem, a luz, a sombra, a respiração, a repetição dos movimentos que nos contam como é viver dentro desse corpo.
A dramaturgia do espetáculo é construída a partir dessas imagens potentes, como um filme que se desenha em nossa frente. É a ação. A ação no escuro. A ação sendo mostrada através da luz. O relógio que parece não fazer passar o tempo, a comida que não consegue ser engolida e o corpo fastioso, o corpo que se rasga para aplacar a dor.
Joelle ali naquele espaço em que desenha sua ação entre a luz e o escuro nos transporta para dentro dessa história e nos deixa ver como testemunhas bem próximas.
Uma luz é construída a cada ação, e eis que essa luz sempre me chamou atenção desde a estreia em 2014, por criar imagens fortes. Uma luz cada vez mais precisa sendo manipulada de uma forma que não sabemos quem está por trás, se é um(a) técnico(a), ou se somos nós. O poder da luz vai ganhando cada vez mais força quando percebemos que agora é aquele corpo que a manipula, que dança com ela no espaço. Uma dança que nos deixa aflito, que desenha no espaço angústias e inquietações.
Joelle constrói esse corpo potente, que comunica, que faz uma anatomia do assunto, desenhando de forma honesta e sem melindres. Mostrando de forma forte, como é na vida real. Ela está entregue. O mínimo dentro do espetáculo é muito para nos fazer entender a dimensão do assunto.
Joelle Malta se coloca diante da situação. Transita entre memórias e criar um universo coletivo que nos faz estar ali em cena.
Resta o silêncio ao final. O silêncio e o tic tac do relógio dentro de nós.

Foto: Nivaldo Vasconcelos


Ficha técnica:
Direção: Donda Albuquerque e Thiago Sampaio
Elenco: Joelle Malta
Plano de luz: Donda Albuquerque
Execução do plano de luz: Lais Lira
Execução de cenografia: o grupo
Plano de Indumentária: o grupo
Sonoplastia: André Cavalcanti
Arte Gráfica: Alex Walker


*Bruno Alves é ator e dramaturgo/tecedor do Coletivo Volante de Teatro.

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